top of page
titulo SITE.png

Competitiva Nordeste


SESSÃO III

Eu, caçador de mim

Exibição presencial
31/10 - Auditório Leite Alves CAHL

20h

Direção: Antonio Santos

Primavera Preta

Entrelaça o desamparado Centro Histórico do Recife, a beleza da periferia de Olinda e as angústias da juventude preta em busca de um futuro prometido.

Direção: Fernando Santos

Habito

Fernando confronta seus medos e dores para realizar o sonho de ser cineasta.

Brotando da Terra

Direção: Zai Moura e Ybypotyrá Juerana Anté Kren

Brotando da Terra: Um Documentário Auto-etnografico é uma imersão poética na jornada de conexão ancestral liderada por Ybypotirá Juerana Anté Kren, sob a direção de Zai Moura, Nesta obra, testemunhe a transcendência do tempo e a não linearidade da experiência humana, enquanto mergulha nas raízes profundas da cultura e espiritualidade. Entre cânticos, rituais e oferendas, descubra a força revigorante da ancestralidade, brotando vida das profundezas da terra. Uma experiência cinematográfica que desafia as convenções e celebra a ressurgência de uma identidade cultural vibrante e enraizada em solos sagrados.

Porto das Almas

Direção: Carolina Timoteo

Arlete é uma senhora aposentada e fotógrafa por paixão, que após longos meses de isolamento social precisa ir ao banco fazer a prova de vida do INSS. No caminho, apesar de estar sem filme em sua câmera analógica e com pouco dinheiro, ela busca formas de fazer retratos do cotidiano, numa jornada entre a solitude e reencontros.

foto.marcela.jpg
          Com o intuito de contrapor os limites que determinam a representação do outro, evoca-se um ímpeto no sentido contrário deles, pousando nas narrativas de si. A sessão “Eu, caçador de mim” é a terceira e última da mostra competitiva Nordeste e leva o nome de um verso que reverencia o eu; o autoconhecimento. Cinemas de autorrepresentação explicitam a pluralidade das facetas que orbitam histórias que tem a intimidade exclusiva de quem capta o que vive. A partir de um cinema que acontece de dentro para fora, as possibilidades de (re)encontros se apresentam partindo de uma esfera pessoal para uma política, o que incentiva a abordagem de um tema não levantado o suficiente no audiovisual, e uma indução ao contato com o experimental de si, visto que a identificação acontece por meio do reconhecimento.
           O entrelace entre o desamparo urbano, a graça da periferia de Olinda e o anseio do prosperar da juventude negra de algumas regiões do Recife, em Pernambuco, é orquestrado por Antônio Santos em PRIMAVERA PRETA (2024) e dá início a sessão com o tom mais propício possível, pois na mesclagem de ritmos do cotidiano evidenciados com a maestria única de quem vive os lugares mostrados e a história contada - tanto na dimensão ficcional quanto na documental - se tem a ênfase na proximidade do espectador e da realização com o interno, assim como a densidade exprimida na atmosfera do filme.
            No mesmo sentido, Fernando Santos, nos convida a imergir em uma camada pessoal do seu âmago: em quem ele foi, onde está e de onde veio no tão intrínseco HABITO (2023), a hostilidade do ambiente social apresentado que ele sempre se encontrou escancara ainda mais a grandiosidade da dádiva de se ter conseguido se manter existindo e realizando no audiovisual. Sua sensibilidade com os elementos visuais e sonoros que compõem o filme leva quem o assiste para um lugar de aconchego que ele minuciosamente conhece e exprime: sua casa. Seja ela nele mesmo, na sua mãe ou no cinema.
         Em “BROTANDO DA TERRA” (2024), de Zai Moura e Ybypotyrá Juerana Anté Kren, vivemos uma experiência poderosa e evocativa, capturando a essência poética e espiritual da obra. O dispositivo usado para tecer as imagens de Guerém promove uma imersão nas raízes culturais e espirituais de quem narra o texto e realiza o curta, onde a ancestralidade brota com força e autenticidade. A mensagem transmitida é de celebração da vitalidade de uma identidade cultural profundamente enraizada, criando uma jornada visual e emocional profunda e transformadora, mostrando a importância de se contar histórias próprias porque quem assiste não apenas vê o filme, mas participa de uma ressurreição cultural, onde o que nos é revelado é vivido e não apenas mostrado.
           Encerrando a sessão e olhando de outro ângulo, mais especificamente pelo da diretora e fotógrafa Carolina Timoteo, em PORTO DAS ALMAS (2022) conhecemos o ponto de vista de Arlete, uma senhora aposentada e fotógrafa que após meses de pandemia mundial do COVID-19 precisa ir ao INSS fazer a prova de vida. No entanto, pelo caminho, tanto ela quanto o espectador revivem momentos fotografados por ela tempos atrás, e por meio da sensibilidade de seu olhar, ela se mantém, na contemporaneidade dos momentos do dia, registrando a beleza de encontros, reencontros e o tudo que conseguimos enxergar no limiar significativo que seus olhos conseguem alcançar.
             Essa sessão se destaca como um poderoso testemunho da força do cinema de
autorrepresentação, onde histórias pessoais se tornam universais, revelando a riqueza de
mundos interiores e a importância de se contar as próprias histórias. Cada filme, em sua
singularidade, contribui para uma tapeçaria de experiências humanas que ressoam com o poder da autenticidade e da autoexpressão. Experienciar esse cinema é legitimar o valor de quem cria e conta histórias próprias, se apropriando do que vive e finalmente possuindo autonomia de dizer para onde vão apontar as câmeras.

Eu, caçador de mim

Texto por: Marcela Dias

​

“Nada a temer senão o correr da luta,
Nada a fazer senão esquecer o medo,
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura”
Milton Nascimento em “Caçador de mim”

bottom of page